Diante da pressão política extrema, da violência e da necessidade básica de continuar pagando as contas, os jornalistas latino-americanos encontraram novas maneiras de atingir seu público e fiscalizar quem está no poder. Amina Boubia, do Programa de Jornalismo Independente da Open Society Foundation, conversou com o professor Rosental Alves, diretor do Centro Knight para Jornalismo nas Américas, sobre seus esforços para compartilhar histórias sobre inovação no jornalismo na América Latina.
Por que você fez do compartilhamento de conhecimento sobre inovação no jornalismo – com foco particular na América Latina – um aspecto fundamental do seu trabalho?
Devido à revolução digital, a própria natureza do trabalho dos jornalistas independentes está ameaçada. A questão – eles podem ganhar a vida sem comprometer a qualidade e o foco de seu trabalho? – é real. O compartilhamento de conhecimento é uma parte extremamente importante da resposta.
Infelizmente, não há muitas oportunidades para esse tipo de compartilhamento na América Latina e da América Latina para outras partes do mundo onde os jornalistas também estão sob ameaça.
Em nosso blog trilíngue , em espanhol, português e inglês, abordamos inovações e tendências do jornalismo na América Latina e no Caribe, além de questões de liberdade de imprensa.
Destacamos modelos de negócios, esforços de sustentabilidade, pesquisas acadêmicas sobre a profissão, perfis de acertos e erros, questões legais, violência contra jornalistas, acesso à informação e muito mais.
Você poderia nos dar alguns exemplos de iniciativas jornalísticas que você relatou?
Sim. Temos compartilhado com o mundo muitas iniciativas criativas e inovadoras de jornalismo. Publicamos dois e-books em nossos três principais idiomas da região— Innovative Journalism in Latin America (2017) e Innovators in Latin American Journalism (2018)—que detalham dezenas de exemplos.
Aqui estão dois:
- O Chequeado foi a primeira organização de checagem de fatos da América Latina e uma das primeiras do mundo, e tem desempenhado um papel importante na difusão de métodos de verificação do discurso público em toda a região, tornando-se autossustentável e relevante na Argentina.
- No Paraguai, encontramos um grupo extraordinário de jornalistas, designers e desenvolvedores que lançaram a Memetic Media, uma startup que alcançou o público mais jovem com reportagens sobre meio ambiente e outros assuntos sérios por meio de suas técnicas inovadoras de ilustração e narrativa, como em sua principal publicação, El Surtidor [site em espanhol] .
Algum exemplo da Venezuela, onde os jornalistas enfrentam algumas das condições mais difíceis do mundo?
Há muitos exemplos da Venezuela. Os jornalistas de lá fundaram organizações de notícias inovadoras que têm resistido à censura e desempenhado um papel importante na complicada situação do país.
Aqui estão três dos casos que abordamos em nossas séries e e-books:
- Efecto Cocuyo foi criado por três repórteres investigativas que perderam seus empregos em jornais.
- Runrunes foi criado por um jornalista investigativo que perdeu o emprego – por motivos políticos – na grande mídia. Graças ao fato de ter alguns milhões de seguidores no Twitter, ele iniciou seu próprio meio de comunicação independente na web.
- El Pitazo é um tipo único de organização de notícias, liderada por jornalistas profissionais, mas produzida com contribuições de centenas de jornalistas cidadãos espalhados por todos os 24 estados venezuelanos.