Fatores que podem colocar o Brasil e o ES na dianteira no mercado mundial de café conilon
Economia

CAFÉ – Fatores que podem colocar o Brasil e o ES na dianteira no mercado mundial de café conilon

 

 

 

 

 

   

 

A escassez de oferta na Ásia, juntamente com desafios logísticos pelos conflitos no Mar Vermelho, além das adversidades na produção de café robusta em países como Indonésia e Vietnã, têm destacado o Brasil, em especial o Espírito Santo, como um protagonista no mercado internacional de café conilon.

 Essa conjuntura apresenta novas oportunidades e desafios para o mercado brasileiro. Conversamos com o especialista em Inteligência de Mercado da StoneX, Fernando Maximiliano, que discorreu sobre os principais pontos que colocam a cafeicultura brasileira em destaque ao atender o déficit de outras regiões produtoras.

1 – Melhoria do apetite da indústria

Nos últimos anos, uma série de transformações vem remodelando a estrutura da cadeia de suprimentos de café. Um dos aspectos destacados pelo especialista em Inteligência de Mercado da StoneX, Fernando Maximiliano, foi o aumento do interesse e da demanda pelo café robusta no mercado internacional.

“Uma das mudanças significativas foi o aumento do apetite e da demanda pelo café robusta. Isso se deve, em grande parte, à superação da visão equivocada por parte dos principais players de que o café robusta, visto como de qualidade inferior, era destinado apenas a blends com o café arábica. No entanto, nos anos de 2020 e 2021, observamos um aumento expressivo nos preços do café arábica, o que levou a indústria a buscar mais o café robusta (conilon)”, explicou Maximiliano.

2 – Melhoria na qualidade do café conilon

O aumento da demanda foi impulsionado pela notável melhoria na qualidade do café robusta (conilon). Por muito tempo relegado a uma posição inferior em termos de qualidade de sabor, o café conilon viu uma transformação substancial nesse aspecto.

Nos últimos anos, os produtores têm se dedicado a aprimorar essa característica fundamental por meio de investimentos em técnicas de cultivo e processamento, bem como na avaliação das práticas de torrefação e extração da bebida. Além disso, têm sido feitos investimentos significativos em processos produtivos mais sustentáveis.

“A indústria percebeu que a qualidade do café conilon é muito superior ao que se imaginava, graças aos esforços dos produtores em melhorar tanto o processo de cultivo quanto na seleção dos clones mais adequados. Eles também têm aprimorado os métodos de pós-colheita para garantir um café de qualidade e implementado medidas para prevenir a fermentação. Como resultado, hoje temos cafés de qualidade superior em comparação com uma década atrás. A indústria notou isso quando teve que aumentar sua dependência do conilon. A melhoria da qualidade do café robusta tem colocado-o no centro da demanda.”

3 – Café conilon brasileiro atende déficit de regiões produtoras como Vietnã e Indonésia

Outro fator destacado pelo especialista é o crescente protagonismo do Brasil no mercado internacional de café conilon devido aos desafios climáticos enfrentados por países produtores, como Indonésia e Vietnã, que resultaram em quebras de safra significativas.

Essas adversidades despertaram o interesse da indústria mundial pelo café conilon brasileiro, especialmente em um contexto onde o Vietnã lidera a produção mundial, seguido pelo Brasil em segundo lugar e a Indonésia em terceiro. No cenário nacional, o Espírito Santo se destaca como o maior produtor de conilon do país, sendo responsável por aproximadamente 70% da produção.

“O Vietnã vem enfrentando problemas em suas lavouras há algum tempo. Seus estoques estão em baixa e, no final do ano passado, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos reduziu sua projeção de produção em 3,8 milhões de sacas, devido ao impacto do El Niño, que trouxe condições climáticas adversas para a Ásia. A Indonésia, como o terceiro maior produtor mundial, sofreu uma quebra de mais de 2 milhões de sacas na safra passada, resultado do La Niña. O excesso de chuvas causado pelo La Niña no passado e a perspectiva de um segundo ano consecutivo com perdas na produção na Indonésia indicam um cenário de oferta reduzida nesses importantes países produtores de café robusta.”

No Brasil, assim como no Espírito Santo, algumas regiões produtoras de café enfrentaram recentemente desafios climáticos significativos. Chuvas excessivas e períodos prolongados de estiagem impactaram a produção e a produtividade das lavouras. No entanto, ainda é esperada uma boa safra, pois os problemas climáticos não foram tão severos quanto em outros países produtores de conilon.

4 – Condição de preço favorável para o café robusta brasileiro

Maximiliano explica que no cenário atual, onde a produção enfrenta desafios significativos no Vietnã e na Indonésia, surge um indicador financeiro crucial: o diferencial de preços. Este indicador, baseado na referência da Bolsa de Londres, compara os preços negociados nos países produtores com os preços internacionais.

Quando o diferencial é negativo, indica que os preços locais são inferiores aos praticados na bolsa, o que é geralmente esperado. No entanto, em situações de oferta limitada, os preços nos países produtores podem superar os preços de Londres – e é precisamente isso que está ocorrendo atualmente.

“Com a oferta restrita no Vietnã e na Indonésia, os diferenciais de preços atingiram níveis excepcionalmente elevados. Em outras palavras, o preço pago pelo café nos mercados domésticos vietnamita e indonésio está mais alto do que o preço negociado na Bolsa de Londres. Neste cenário, o Brasil emerge como a origem mais competitiva. Seus preços são mais acessíveis e competitivos, o que posiciona o país de forma favorável no mercado internacional”, ressaltou.

5 – Condição dinâmica global favorável para o robusta

A oferta restrita na Ásia, juntamente com estoques mais baixos e desafios logísticos no exterior, está impulsionando o café robusta a atingir preços recordes na Bolsa de Londres. Enquanto as tensões persistem no Mar Vermelho, o comércio global de café enfrenta repercussões significativas. Atrasos nas viagens e aumento nos custos de frete marítimo estão impactando diretamente o mercado do produto.

A preferência pelo café brasileiro é evidente, pois os grãos asiáticos, ao se dirigirem para a Europa, dependem do Mar Vermelho como via crucial de exportação. Esses fatores abrem novas oportunidades para o conilon brasileiro. O especialista Fernando Maximiliano prevê que essa dinâmica não mudará no curto prazo.

“O Vietnã já concluiu sua colheita, enquanto na Indonésia já se discutem novamente problemas na safra. Além disso, há incerteza devido ao conflito em curso no Oriente Médio. É imprevisível determinar quando o conflito terminará e quando a logística dessa rota marítima, que passa pelo Mar Vermelho, será restabelecida. Portanto, não podemos fazer previsões definitivas sobre quando essa situação será resolvida.”

Diante desse cenário, a expectativa é que o Brasil tenha uma boa safra de café, consolidando sua posição como principal fornecedor em termos de competitividade.

6- Cenário de oportunidades para o Brasil e para o Espírito Santo

O especialista aponta que é inegável que o Espírito Santo esteja no centro desse cenário de protagonismo. “O estado já ostenta a liderança nesse setor, e os recentes investimentos robustos na indústria de café solúvel apenas reforçam essa posição. Considerando a questão da oferta do café conilon, sem dúvida é um ambiente altamente favorável para o Espírito Santo”.

Os produtores capixabas têm observado os preços atingirem patamares elevados no mercado, especialmente devido à valorização e à crescente demanda pelo café brasileiro nos países do Hemisfério Norte, Europa e Estados Unidos.

O café robusta alcançou o maior valor real desde outubro de 2021. Os preços registraram um forte aumento em janeiro, encerrando o mês no maior valor real (deflacionado pelo índice IGP-DI) desde 7 de outubro de 2021, atingindo R$ 854,71 por saca de 60 kg, conforme o Indicador Cepea/Esalq. A média do primeiro mês deste ano, de R$ 802,67 por saca, representou um aumento de 8% ou quase R$ 60 em relação a dezembro.

Segundo pesquisadores do Cepea, além da demanda externa aquecida pela variedade, o impulso também é impulsionado por incertezas relacionadas à produção interna. Colaboradores relataram casos de uma nova espécie de cochonilha nas fazendas do Espírito Santo – uma praga que está debilitando os cafezais e pode causar prejuízos na temporada 2024/25. Foto e fonte via: https://www.folhavitoria.com.br/economia/agro-business/2024/02/08

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *